MANTIQUEIRA CAIPIRA (haicais entremeados)
Aurora desperta nos montes mineiros
Entremeados de névoas brancas
A relva todinha molhada
À espera dos raios de sol.
Broas de milho
Mais aromas de café
Serras de Minas.
Nos campos de capins esverdeados
Vacas pastejam e perambulam devagar
Depois das ordenhas que se repetem
Nas rotineiras madrugadas.
As vacas pastam
Em encostas íngremes
Em horas lentas.
Meninos e meninas saltitantes
Alegres e barulhentamente infantis
Indo e voltando em diárias repetições
Rumo à escolinha do povoado.
Crianças brincam
Em caminhos tranquilos
Latidos de cães.
O caipira alimenta seus porcos
Com tudo que vira comida
Para que num dia mais adiante
Possa ser por eles alimentado.
Porcos comendo
Na pocilga barrenta
Leitões mamando.
Nos dias chuvosos lá fora tudo para
As lenhas dos fogões avermelham-se em brasas
Bolinhos de farinha chiam em gorduras quentes
As crianças têm olhos maiores que as barrigas.
Tempo de chuva
Famílias em casa
Bolinhos fritos.
Na tardinha de todo dia
As aves se recolhem nos poleiros
Segue-se o ritual de picar fumos
E transmutá-los em palheiros.
Poleiros cheios
Velhos sentados pitam
É fim de tarde.
A boca da noite é para a boa prosa
De tudo se proseia um pouco
Assombrações, sacis e lobisomens
E o peixe grande que escapa toda vez.
Sacis travessos
Todos os lobisomens
Sombras noturnas.
Na serra se dorme bem cedo
Para muito bem cedo acordar
A prosa sempre é muito boa
Mas já é hora de deitar.
As prosas vêm
As prosas já se foram
Têm que repousar.
Grilos cricrilam e sapos coaxam
Na sinfonia suave das noites serranas
Sob o céu bem mais estrelado
Do que o céu das noites urbanas.
Só quietudes
Nas noites dessa serra
Que chora águas.
As horas da serra são bem outras
O relógio é o sol e a lua também é
Num momento ela está gorda
E noutro está bem fininha.
Passa o tempo
E sempre bem devagar
Pressa nenhuma...