CHUVA INCOMPREENSÍVEL EM SÃO PAULO
Em São Paulo, os sacos de lixo azul
juntam-se na porta dos edifícios.
Em São Paulo, as sobras amanhecem azuis.
Aqui é compreensível o entulho colorido,
pois há poucas cores e muitos artifícios.
Em São Paulo muitos cachorros
transitam pelas ruas.
Em São Paulo se recolhem vira-latas.
mas as ruas não acordam tão dóceis,
pois não se teme a raiva
apenas pela boca do cão.
Em São Paulo há um trânsito
que impede as saídas
Em São Paulo o excesso não se resolve
mas já se compreende:
o tráfico maior matinal
o tráfico do começo da noite
indica que todo caos
também precisa ser pontual.
Em São Paulo há muita chuva.
Chove na Cracolândia,
“Boca do lixo” é mais conhecida.
Em São Paulo não se compreende tal boca,
nem as janelas soturnas.
Não se sabe a hora dos seus cães,
não se conhece o fluxo dos seus vícios,
mas somente ali tudo é emergente
como uma chuva insistente.
DO LIVRO: ADVERSO E OUTROS MOMENTOS