A PROCURA DO POETA
O poeta olha para a vida que se descortina
Com olhos de quem espera epopeias,
E o que ele vê são histórias bem pequenas,
De meros humanos nas labutas diárias
Das suas singelas histórias de vida.
Não são histórias de semideuses em lutas cósmicas,
São as histórias das pequenas batalhas de sempre.
O poeta sente-se sem enredos valorosos,
Abandonado pelas distantes e divinas musas.
Acredita que elas se recolheram no Olimpo
Ao lado de Zeus, todo poderoso pai,
E que o tempo heroico dos semideuses esfumou-se,
Que as suas memórias estão lacradas em algum baú,
Feito cartas velhas amareladas,
Num baú jogado num sótão mal-assombrado...
Só resta ao poeta a humildade de olhar
Para o mundo que se apresenta bem pequeno
E apequenar-se diante das suas histórias pequenas,
Para delas arrancar enredos simples, mas verdadeiros,
E, quem sabe, descobrir grandezas escondidas
Nos folguedos vivos das crianças
E nas memórias vivas dos velhos,
Os extremos do existir nesta vida...
Quiçá retornem as musas...