Recital no Lago Mudo
No lago coaxa um sapo,
Cabisbaixo em fadados condões...
E vai - enfunando o papo -,
Coaxando a plenos pulmões!
Meu olhar - cinzento e profundo... -,
Observa o sapo na beira do lago...
E o sapo, (lá do seu mundo!),
Observa a solidão em que naufrago...
O lago, (todo o seu mundo...),
Trêmulo n’água, (ensimesmado...),
E coaxa em fados profundos
À tristeza em que me vê mergulhado...
Tanto coaxa enfados
Que emudece a dor do meu coração
Que magoado sofre calado
A certeza de se sentir solidão...
Uma guitarra?! Mágica serena...
O sapo a dedilha num doloroso afago,
E de Fernando Pessoa - o poema -,
Recita no silêncio do lago:
“ Contemplo o lago mudo
Que a brisa estremece
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece...
O lago nada me diz
Não sinto a brisa mexê-lo...
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo...
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida...
Por que fiz eu dos sonhos
Minha única vida? ”
Na frialdade do tempo a vida persiste,
E tudo, tudo nessa hora esmorece...
E o sapo, (do meu viver tão triste...),
Contempla o lago e adormece...
(Onivan – 23/03/2017)
Contemplo o Lago Mudo
(Fernando Pessoa)