Coliseus de Ódio
Há um consenso de que existe algo errado com a nossa democracia. Enquanto a esquerda esteve no poder, era comum os formadores de opinião com ideologias mais ao centro ou a direita escreverem que ela estava doente. Agora com a direita chegando ao poder os papeis se inverteram.
Outro consenso é culpar sempre os eleitos por adoecer nossa democracia. Quase nunca a sociedade que os elege. Enquanto a sociedade continuar saindo incólume das suas experiências malsucedidas nossa democracia nunca será sadia. Uma democracia não pode viver de tentativas de erros e acertos.
A maioria dos caminhos que o liberalismo de centro trilhou estavam corretos. Nossa economia foi estabilizada com o controle da inflação. Tenho dúvidas se o WhatsApp desempenharia o mesmo papel de protagonista na vitória de Bolsonaro, se o liberalismo não abrisse as portas para o boom da telefonia no país.
Então a sociedade ousou fazer uma experiência. Hoje quando consultamos os resultados é possível dizer que Lula não foi eleito. Ele foi praticamente aclamado presidente do Brasil. Agora a ideologia de esquerda do Partido dos Trabalhadores é acusada de nos levar para o comunismo. Vale como um refresco de memória. Antes de Lula ser eleito as ideias esquerdistas dos petistas eram ainda piores. Sua bandeira já era vermelha.
Com toda a certeza se Bolsonaro não tivesse aparecido pregando sua ideologia de direita, o esquerdismo petista não teria vindo à tona. Se a corrupção não tivesse atrapalhado, o projeto de poder petista teria seguido adiante com a ajuda da sociedade, e seus ideais comunistas não teriam a mínima relevância.
Com a decisão por outra experiência, ficou claro não ser só nossa democracia a doente. A sociedade brasileira também adoeceu. Tomara que apareçam bons “médicos” e bons “remédios” para curá-la. Por enquanto nenhum à vista no horizonte. Entretanto, se sabemos que feridas se curam, cicatrizes perduram.
Com Bolsonaro e os petistas comandando seus exércitos de gladiadores, as redes sociais se transformaram em imensos coliseus. Ali não escorre sangue mas verte ódio. Se uma sociedade dividida é ruim, se odiando é ainda pior. O ódio é um estopim extremamente perigoso. Talvez, nunca estivemos tão próximos de incendiá-lo devastando e contaminando com nosso ódio futuras gerações. Acreditem, não seremos perdoados.
Se eu não vivesse para ver diria tratar-se de uma aberração. Na grande mídia brasileira, não apenas na sensacionalista, vemos anúncios de terapias para que amigos e famílias inteiras se reconciliem após se digladiarem nos coliseus ideológicos. Exclusivo da espécie, o ódio faz do Homo sapiens o pior dos predadores. Pela supremacia de cores, hasteamos a bandeira do ódio.