NOSSA PIOR NUDEZ
Desde que o Brasil voltou a respirar ares democráticos, as campanhas eleitorais têm relegado propostas e planos de governos a uma espécie de segundo escalão. Descobriu-se que propostas e planos não são o melhor chamariz para se angariar votos. A sociedade brasileira nunca esteve interessada nas ideias dos políticos, mas para ouvir fofocas...
É fato também, que os candidatos nunca se interessaram muito em expor claramente suas ideias e propostas nas campanhas eleitorais. Se a sociedade exigisse que fosse assim, os candidatos enfrentariam sérias dificuldades. Então a troca de ideias por fofocas alegrou os dois lados. Um tipo de comum acordo.
Se existe alguma ideia nas campanhas eleitorais, ela trata exclusivamente de desmascarar o adversário. Não sei se ainda há mas deve haver, desde o embate entre Collor de Mello e Lula pessoas eram pagas para descobrir não só os defeitos, mas as sujeiras da vida do oponente. Quanto mais sórdida fosse a sujeira, com mais pompa era trazida à tona e apresentada aos eleitores.
Essas pessoas especializadas em sujeiras deviam ser muito bem pagas. Vale lembrar que num mundo ainda sem redes sociais, ouvir as fofocas e ter de auditá-las como verdadeiras era muito mais trabalhoso. A sociedade não se contentava com pouca coisa.
O advento das redes sociais apimentou as campanhas políticas. O que um dia foi já foi pago, tornou-se gratuito com as “fake news”. Fofocas verdadeiras já não bastam. A graça é inventá-las aos milhares, depois postá-las e compartilhá-las. Claro, só aquelas que estejam de acordo nem diria com as ideologias, mas com os currais.
A princípio se imaginava que as redes sociais chegaram para ajudar a sociedade tirar a máscara dos políticos. É aqui que reside nosso maior engano. Na ânsia de desmascarar, a sociedade vem tirando sua própria máscara. Exibindo sua pior nudez.
Nossa intolerância é um mar revolto de sordidez, com um grande perigo de ali na frente causar tsunamis devastadores. Como sempre culparemos quem estiver no poder. As redes sociais sem que percebamos nos desnudam da nossa máscara, jamais da nossa carapuça. Essa continua intacta. É evolutiva.
Diante do diferente, logo exigimos que a sociedade nos livre desse mal. Rezamos para que outras crenças queimam nas fogueiras do inferno. Só as ideias, princípios e conceitos com os quais não concordamos são permissivas e prejudiciais as crianças.
Nenhum governo será capaz de desconstruir o muro de intolerância levantado pela carapuça da sociedade. Sempre existe a possibilidade de o cenário ser ainda pior, e o muro se transformar em torre de babel. Não uma ficção. Uma verdadeira.