Consciência (T495)
O menino não podia acreditarno que estava vendo, o seu cachorro havia falado, estava atordoado, mas novamente no lugar do latido a fala em bom português.
Será que sua mãe havia colocado alguma coisa em sua comida?
__ Você falou comigo, isto não é possível.
__ Claro que falei, e porque isso não poderia ser possível?
__ Cães não falam, será que um alienígena se apoderoudo meu cachorro?
__ Olha aí, você acredita em alienígenas, mas não acredita em câes falantes, até porque estou na sua frente me comunicando.
__ E quem é você afinal?
__ Sou sua consciência, estou aqui a pedido do seu Anjo da Guarda que entrou de licença porque já não aguenta mais ficar te livrando de encrenca.
__ Como o Grilo Falante do Pinóquio?
__ Isso, só que ele pegou moleza diante do que vem pela frente para mim, nem seu Anjo da Guarda aguentou, acabou pendurando as asas, se é que me entendeu.
__ E qual seu nome?
__ Bem, consciência não tem nome, mas diante da circunstância continuo adotando o nome ridículo que me deu, Salsicha.
Nisso entra o amigo de Toninho, assim era chamado, e logo vai se gabando de ter um cachorro falante:
__ Marquinhos, o Salsicha fala.
__ Você comeu aqueles bombons de licor ou bateu com a cabeça?
__ Mas é verdade, olha só. Salsicha, fala oi para o Marquinhos.
Seguiu-se um breve silêncio e de repente:
__ Au Au!!!!
Uma longa gargalhada:
__ Vou contar para o pessoal na escola. __ e se retirou.
Toninho lançou para o cachorro um olhar raivoso.
__ Por que você não falou, agora eu vou ser alvo de gozações na escola.
__ Eu sou sua consciência, não dos seus amigos, só devo me reportar a você.
Realmente a partir deste dia o comportamento de Toninho mudou muito, já não amarrava mais latinhas nos rabos dos gatos, não roubava os biscoitos da mercearia da Dona Naná, não colocava mais laxante nos refrigerantes das meninas, quando isso acontecia era um auê, afastou-se definitivamente das más companhias, pois sempre que pensava em fazer uma maldade, lá estava ele, Salsicha, com um olhar que já dizia tudo.
Atingiu a maioridade com boa conduta, um exemplo na cidade, estava indo para a universidade, tinha reparado que quando estava chegando perto dos 18 anos, Salsicha já falava menos, só lançava um olhar aprovando tudo.
Um dia na universidade recebeu um telefonema de sua mãe dizendo que Salsicha havia partido, seus olhos se encheram de lágrimas, mas sabia que ele havia ido com a certeza do dever cumprido.
Alexandre Brussolo (06/11/2009)