A FOME E O PAPEL
A barriga me dói n’alma
E nem sei se alma ainda tenho,
Pois já nem tenho forças
Para caçar minha comida
Na grande selva entijolada
E cada vez mais vazia,
Deserta de vida real e de frutos.
O arco, a flecha e a lança pontuda
E as matas dos meus ancestrais
Já não me servem, nem existem.
Preciso agora de folhas,
Muitas folhas estampadas,
Feitas da madeira da floresta,
Aquilo que dizem ser dinheiro.
Se não tenho dessas folhas
Não consigo chegar
Às montanhas das guloseimas
Que apodrecem a espera
Dessas coloridas figurinhas,
Que, num abracadabra,
Transformam-se em saborosa comida.