CENA
Por Andrade Jorge
Parecia que todos os “ais” estavam ilhados naquela mesa,
transparentes em cada ponta de cigarro no abarrotado cinzeiro,
e solitária a cadeira ainda refletia a face lívida, tesa;
Impassível a vida encenara mais um ato inteiro.
“Flashes” das cenas cujos atores
desnudos do calor do texto,
sorveram da garrafa do nada meio copo de dores,
e se embruteceram no esquálido contexto.
No imaginário de outrem, naquela mesa fria, sem graça,
de ciúmes e queixas repleta,
esvaecia o propósito, e o sentimento feito rastilho de fumaça
anunciava mais uma desilusão do poeta.
Assim visualizei a cena,
fiz do ponto o contraponto, rezei a reza,
segui o roteiro de certeza plena,
volatizando-me no pingo de suor do Mestre Zeza.
ANDRADE JORGE
Nota do autor: Poesia escrita no 1º Encontro dos Rascunheiros de Campinas, em 10/09/2008.
O Mestre Zeza citado é Zeza Amaral, jornalista, cronista, compositor de Campinas/SP