A HISTÓRIA DO PIÁ
((( piá=guri=menino )))
Piazito criado guacho
Sem nunca conhecer afagos
Vivia rolando por estes pagos.
A mãe morrerá de parto
Num rancho quase tapéra
O pai...
O pai jamais o quizerá.
Parentes nunca conheceu.
E entres estranhos cresceu.
Aos dez anos de idade
Já era peão de estância
Dos homens...
Dos homens conhecerá a ganância.
Bombacha velha rasgada
Que ganhava da peonada
Pés no chão, dormia no galpão
Com ódio no coração.
A vida lhes negará tudo
O tempo nada mudou
Então o piá de recados
Um taura moço ficou.
Certo dia aborrecido
Com a vida que levava
Andou tomando uns tragos
A mais...
A mais do que sempre tomava.
E no bolicho do Adão
Estava grossa discussão
De repente fechou a pauleira.
Bhá...
Voava mesa banco cadeira
Saiu tiro e facada
E o taura moço e valente
Lutou com a peonada.
No outro dia o acharam
Quase morto o infeliz
que não morreu por um triz.
No hospital da cidade
Uma semana delirando
Então foi com a morte
Que o taura ficou peleando.
Com uma facada nas costas
E com uma perna quebrada
Que lhe falou o doutor
Teria que ser amputada.
A enfermeira que o cuidava
De tristeza, até chorou
E pelo taura...
Pelo taura se apaixonou.
Da enfermeira apaixonada
O primeiro presente ele ganhou
Foi um par de muletas
que de imediato ele recusou.
Pois na sua rude imaginação
Era muita humilhação
Andar assim amparado
É o mesmo que andar amarrado.
Voltou ao rancho taperá
Que um dia lhe viu nascer
E ali quis morrer
E lá esta enterrado
O pobre taura desgraçado.
PELOTAS RS