SEM MOLDURAS
Hoje é tão simples vê-la naquela foto.
O sorriso abre-se,
o “flash” da câmera reflete o joelho
que se congela,
flor óssea,
eternamente luminosa e sem pétalas.
Vejo também o músculo,
da tua coxa esquerda.
Guardei a perna intacta,
em um pacote de cartas,
(contas de luz estão no mesmo embrulho)
mas os braços,
soltos no instantâneo,
emperram as gavetas.
Naquela outra pose,
o teu olhar perdido,
lembra o término
- desconjuntado como o sofá da foto -
do nosso voo de amor.
Albatrozes
Voamos no raso. Não está no retrato.
Aqui não vejo os lábios.
Percebo a péssima qualidade da estampa
e daquele tempo
embora os olhos, as mãos,
o sorriso
estejam agora no espaço útil
deste criado-mudo.
DO LIVRO: "BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"