Voltando às Origens – Parte 2
Nosso esforço aqui, é então, simplesmente o de levantar algumas reflexões, para que sendo submetidas à luz de Jesus Cristo, tudo possa fazer sentido não apenas em nossa mente, mas sobretudo em nosso coração, para seja efetivamente transformado pela Sua maravilhosa e poderosa graça.
Muito bem! Primeiro ponto então: seria a nossa consciência o único árbitro que deve atuar na consideração deste assunto?
É fácil concluir que não, porque é muito comum observar que não poucos agem segundo sua consciência para aprovar exatamente o que é mau.
Se fosse dado a nós, decidir sobre o que é bom e aprovado, poderíamos chegar até mesmo ao ponto absurdo de considerar o adultério na categoria de algo bom, sob a alegação de que a nossa consciência em nada nos reprova em contrário.
Como a própria consciência foi atingida pela corrupção do pecado, ela mesma necessita ser restaurada pela renovação da mente, pelo poder de Deus, para que possa fazer uma justa e correta avaliação de todas as coisas.
“1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Romanos 12.1,2).
Para nos ajudar a entender um pouco melhor a profundidade da miséria da nossa condição quando não regenerada pelo Espírito, nosso Senhor Jesus Cristo, apresentou em diversas partes do seu ensino, noções que devem ser consideradas para um correto direcionamento da consciência para o que é aprovado ou não no nosso comportamento.
Temos isto especialmente destacado no Sermão do Monte, no qual ele define o pecado do assassinato, como sendo o próprio ato de odiar alguém, pois isto tem a ver com o desejo de aniquilação da pessoa odiada, com o desejo de que ele sequer existisse, e assim, isto é considerado aos olhos de Deus como mais uma forma de o pecado se expressar em nós, pois tal sentimento é ausente naqueles que se encontram santificados, quando são conduzidos pelo Espírito Santo.
É interessante observar que Jesus não apresentou isto como uma nova lei, como um dogma, como um preceito para ser cumprido externamente, até mesmo porque não tem como ser totalmente avaliado externamente, pois tem a ver com os próprios anseios, desejos, e impulsos do coração.
Como ele haveria de citar que todo o mal que praticamos procede de uma fonte má, que é o nosso próprio coração.
“21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,
22 a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
23 Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.21-23).
O trabalho da graça de Deus está dirigido para o coração. Para a sua transformação e purificação.
Então dependemos não apenas dos preceitos do Senhor em Sua Palavra, como também do poder das operações do Espírito Santo em nosso interior, tendo nós já sido submetidos à redenção que há em Cristo, por uma justificação recebida pela fé, para que pudéssemos ser transformados em novas criaturas, pela regeneração e santificação do Espírito Santo.
“25 Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.
26 Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne.
27 Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.” (Ezequiel 36.25-27).
Sem isto, nem adianta pensar em um viver santo, que nos leve à origem de tudo, àquele estado bom da alma que havia no princípio.
Por isso nos é ordenado não apenas andar no Espírito, mas vivermos nele, porque se não há esta vida de Deus na alma, será de nenhum efeito tentar viver segundo a Sua boa vontade.
É por um andar na fé no Senhor e na Sua Palavra que vai sendo formada aos poucos no crente uma consciência cada vez mais restaurada, para que seja uma boa consciência que saiba discernir a vontade de Deus e o pecado em nós, para que o submetamos ao trabalho de mortificação da cruz que devemos carregar diariamente.
Quão abençoado é quando somos dirigidos por uma boa consciência, que foi assim formada em nós pelo Senhor, mediante a Sua Palavra.
Quando a consciência não é boa e bem desenvolvida, ela pode nos enganar e nos levar a aprovar comportamentos que Deus condena, e a rejeitar aquilo que Deus aprova.
Importa então, crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, para que possamos viver em graus cada vez maiores segundo a sua vontade, que é perfeita, boa e agradável.
A vontade de Deus é e deve ser o essencial em todo o nosso modo de pensar e agir porque se mirarmos tão somente à letra do mandamento podemos incorrer no erro de uma falsa interpretação ou mesmo de uma aplicação inadequada. Necessitamos da direção e instrução do Espírito Santo para poder bem discernir qual seja então esta vontade divina para nós, especialmente nas situações particulares que somos chamados a viver.
Somente o Espírito Santo conhece a mente de Deus e as coisas de Deus, e ninguém além dele, pode revelá-las para nós. Se faltar então a vida do Espírito ou um caminhar no Espírito, a consequência imediata será um modo de pensar e agir errado, contrário ao que se espera de nós,
A água será boa se a fonte for boa. Faça-se boa a fonte e a água será também. Da fonte de um coração não regenerado e santificado nada que seja da água do Espírito poderá fluir.
De modo que todas as ordenanças de Jesus e seus apóstolos, para a Igreja, devem ser consideradas à luz deste princípio geral citado anteriormente.
É para uma viver na graça, na fé, no Espírito, que somos chamados por Deus, pois sem isto, nenhuma vida restaurada haverá de fato.
À medida que vivermos e andarmos no Espírito, em obediência à Palavra de Deus, mais e mais veremos em nosso comportamento, as coisas que nos são ordenadas e recomendadas pelo Senhor. Mais veremos da Sua própria vida santa e justa em nós.
Então, se Jesus é para o crente nada mais do que um líder de uma religião chamada Cristianismo, se a vida deste crente consiste em guardar preceitos que escolheu guardar por sua própria conveniência, ele estará errando completamente o alvo da vocação para a qual foi chamado por Deus, que é o de ser transformado à imagem e semelhança de Jesus.
Jesus veio a este mundo para remover o pecado. Ele não somente é aquele pelo qual nossos pecados são perdoados, mas por cuja obra e poder devem ser também removidos e extirpados.
A remoção do pecado não visa a uma mera questão formal ou jurídica, relativa à satisfação da justiça ofendida de Deus, mas à implantação em nós de uma natureza verdadeiramente santa e justa. Onde isto faltar, não há uma obra de Deus sendo feita, pois ela sempre terá este objetivo principal.
Por nenhum outro motivo Jesus teria vindo a este mundo, se não fosse para nos resgatar do pecado e das trevas, para a luz e para Deus.
Se alguém tiver algum pecado de estimação, ou que considere pequeno demais para ser digno de sua apreciação, certamente há de excluir a si mesmo da comunhão com o Senhor por causa deste seu posicionamento.
Deus requer um real comprometimento de nossa parte quanto a vencer tudo o que for pecaminoso em nós, e não pode admitir o que for contrário a isto, porque onde não há uma verdadeira disposição de vencer o pecado, não há também uma verdadeira inclinação para fazer a vontade de Deus, a qual importa ser feita na terra, como é feita no céu, ou seja, de modo diligente e perfeito.
Se não podemos ter perfeição de ação, podemos ter perfeição de sinceridade, pela expulsão de toda hipocrisia que haja em nós em relação ao Senhor.
Podemos ser perfeitos em confissão sincera, se não podemos ser perfeitos em ações completamente santificadas, porque sem isto, não pode haver aumento em graus em nossa santificação.
Deus acrescentará mais graça e maior fé, onde houver maior empenho em diligência para ser obedecido.
Se nos falta sabedoria para discernir qual seja a sua vontade, devemos pedir-lhe em oração que nos faça sábios, e abra o nosso entendimento para compreender a verdade revelada em Sua Palavra.
Eis aqui uma boa oração a ser feita de coração: “Senhor faz de mim uma pessoa verdadeiramente santa e piedosa em todas as coisas.” Tudo o que for necessário para isto será certamente acrescentado por Deus, diretamente ou pela ação de instrumentos (pastores, mestres etc).
Quando a Bíblia fala de volta à origem, o que está em foco não é um retorno ao jardim do Éden e ao estado de inocência do primeiro casal, antes da queda, mas a obter uma real vitória sobre o pecado em todas as suas formas e manifestações, seja em atos, imaginações, pensamentos, desejos, omissões, para a restauração da nossa comunhão com Deus, pela união com Jesus Cristo em um só espirito.
Nosso espírito, nossa mente, nossa vontade, devem ser renovados e tratados de tal forma que respondam harmoniosamente aos atributos e vontade de Deus, pois é ele, e somente ele, é o modelo que devemos imitar para que sejamos também perfeitos e santos. (Efésios 5.1,2)
Deus não está nos impondo a sua vontade ao modo de um ditador terreno, que subjuga as pessoas pelo argumento da força. Nem mesmo pela força do argumento estamos sendo tornados submissos a Deus, mas pela atração amorosa do Espirito Santo, de modo que se afirma: “nem por força, nem por poder, mas pelo meu Espírito.”
Nada pode lhe agradar senão a verdade, de modo que toda a nossa adoração deve ser em espírito e em verdade, para que seja livre, amorosa, voluntária, verdadeira, justa.
Lisonjas não podem agradar ao Deus santo, justo e verdadeiro, senão o louvor que procede de um coração santo, justo e grato.
Somente aqueles que conhecem verdadeiramente a Deus e à Sua vontade, podem agradá-lo na aproximação que fazem seja através da oração ou adoração, porque tudo farão em santo temor, tremor e reverência àquele é a eterna Majestade do céu e da terra.
Em nenhum outro depositarão a sua inteira confiança, e tributarão adoração e louvor, senão somente àquele que é digno de toda a consagração de suas almas e corações.
Tudo isto farão, porque o Espírito Santo que neles habita lhes inclinará para tal. Ele é o penhor e o selo de que alcançaram a salvação que há em Jesus Cristo, porque o Espírito Santo foi derramado desde o dia de Pentecostes, para a formação da Igreja, e para que por meio dela, toda exaltação fosse dada ao Senhor Jesus, pelo trabalho que realizou em favor da nossa salvação.
O Pai decidiu que toda a plenitude deve habitar em Jesus Cristo, e esta é a razão de que se desejamos ter vida eterna, não devemos ir a nenhum outro, senão somente a Cristo, pois esta vida foi depositada nele pelo Pai para ser compartilhada conosco, sendo ele a nossa cabeça, pela qual vivemos e devemos agir em todas as coisas.
Você vê que é um grande erro quando se pensa em Jesus como um mero descendente de Abraão, como um judeu que foi rejeitado pelo próprio povo judeu, por ter sido considerado pelos seus líderes um herege, e assim eles têm sido ensinados falsamente através dos séculos, enquanto todas as previsões da Palavra de Deus que foi dada à igreja através deles, continuam tendo o seu cumprimento, apesar de eles as negarem diretamente, no esforço de comprovar que Jesus não é de fato e de modo nenhum o Messias que deveria ser aguardado por eles.
Um dos principais motivos desta rejeição é que o próprio Deus os entregou ao endurecimento, porque sem a operação da graça, não é possível chegar-se ao conhecimento de Jesus como sendo o único Senhor e Salvador de seu povo.
Outro motivo é que o modo de vida a que Jesus nos chama, a saber, em santificação de vida, em sujeição a Ele e aos seus mandamentos, que são eminentemente contra um viver cobiçoso e carnal, em autonegação e paciência nas tribulações, em nada é atrativo para aqueles que buscam fama e riquezas neste mundo.
Em terceiro lugar, porque Deus conhece os que são seus, e chama eficazmente para a salvação somente aqueles que elegeu antes da salvação do mundo, sejam eles israelitas ou não.
Uma religião que se dirige ao âmago do coração e que demanda transformação em nosso modo de viver não pode de fato ser atrativa para aqueles que seguem a inclinação da carne.
Jesus impôs renúncias até mesmo da própria vida, para que possamos ser seus discípulos. Ele exige fidelidade absoluta a Ele e a seus mandamentos. Este não é, portanto, um Messias que agrade a maioria dos judeus, e até mesmo a maioria das pessoas em todo o mundo.
Por isso ele disse que são poucos os que se salvam. Que são poucos os que entram pela porta estreita da salvação. Que muitos são os chamados mas poucos os escolhidos.
Esta resistência a Cristo será vista portanto, em maior parte, naqueles que possuem muitos bens materiais e fama neste mundo, pois haverá uma maior resistência neles para entregarem o governo de suas vidas inteiramente nas mãos de Deus.
Um rico dificilmente entra no reino dos céus. Não são os de nobre nascimento que costumam formar nas fileiras dos que são salvos, não porque Deus os rejeite por serem nobres e ricos, mas porque eles mesmos se excluem da chamada divina por estarem inteiramente apegados ao modo de vida deste mundo.
“26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento;
27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes;
28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;
29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.
30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,
31 para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (I Coríntios 1.26-31).
À luz de tudo o que foi exposto pode-se chegar à conclusão de quão vã é a esperança de um mundo melhor sem que o próprio Jesus a ele retorne como rei e juiz de todos, juntamente com os santos glorificados.
Nenhum sistema político, nenhuma forma de governo pode responder ao estabelecimento de uma sociedade justa, especialmente neste período em que a iniquidade se multiplica velozmente em todas as partes da terra.
Ainda que o governo fosse bom, poder-se-ia dizer, em algum tempo, o mesmo de todos os governados?
Todos sabemos claramente qual é a resposta.
Por isso o Deus que onisciente e todo-sábio, desde antes da fundação do mundo, estabeleceu Jesus para ser a cabeça de toda a criação, e particularmente do seu povo que é remido pelo seu sangue.
Ele reinará para sempre, onde haverá somente paz e justiça perfeitas, quando forem criados um novo céu e uma nova terra, e isto, somente depois do milênio.
Enquanto houver pecado no mundo, não pode haver justiça e paz perfeitas nele.
Através dos séculos os remidos têm sido reunidos a Cristo, para que reinem juntamente com ele depois da Sua volta.