PRIMEIRA NUDEZ
O quarto escureceu,
quando tua nudez bloqueou
a luz do corredor.
Não a percebi nua,
minha boca nem engolia estrelas
e tu não parecias uma Deusa das águas.
Quem não diria que,
acesa tua nudez,
ela não fosse somente pernas
compridas como o corredor do conjugado.
E eu deitado, imaginava,
pernas de flamingo cor-de-rosa,
jamais pisariam em meus olhos de vidro,
não soltariam minhas íris
em um sonho de amor.
E enquanto chegavas,
eu, que notara o pé direito baixo
do teu dormitório,
fui reparando somente em ti.
Você subiu em nossa cama,
ficou em pé
e o seu pé direito
acariciou-me o peito.
Tua nudez completou-se para além das cores.
Naquela hora,
senti todos os amores
e vi que sobre mim surgia:
a Virgem dos Cisnes
e o Pássaro da Aurora.