Vida... quem vem e fica
Vida... quem vem e fica
É o amor em brotos, que cresce, se avoluma e nos apruma
na existência que naturalmente nos é torta, profícua, é o que importa...
Quem vem e fica
É a vaziez da saudade que surge do fundo obscuro do coração
Que bate descompassado, desarmônico, deixando um ar lacônico...
Quem vem e fica
É a dor do corpo e da alma, que nada acalma quando a cura que mais
Se procura não chega ao momento de acabar a aflição que nos degola
Aos poucos...
Quem vem e fica
É o desamor, a perda indesejável da paixão, a morte prematura da emoção
Que antes nos fazia exultar de prazer, deleite e satisfação...
Quem vem e fica
É a vida que se esvai em doses homeopáticas as quais não damos importância
Quando jovens, pois nosso “cálice de vida” está cheio e à medida que bebemos
A vida, ela se torna menor, pequena e próxima ao fim, aí sim, valorizamos as doses
Que se tornam relevantes em instantes que ficam e não mais voltam...
Quem vem e fica
É a nascença na miséria, que nos faz conhecer a caverna da penúria, a vivência na lazeira
Onde a fome está a sacolejar e a fazer roncar estômagos vazios, vaginas em cios, mentes sem desafios, que servem apenas para alimentar a violência, a indecência de uma vereda sem eira e nem beira...
Quem vem e fica
É a decepção com a evolução do homem, da sociedade que apesar da idade
Não amadurece, apenas envelhece, endoidece, tornando-se mais fria, violenta
E muito sangrenta...
Quem vem e fica
O tempo que com sua marcha cadenciada pelo bater ritmado do ponteiro do relógio
Aporta em nossa carne, em nossa efêmera existência e vai nos consumindo, sumindo,
Escoando o físico, deixando intocável o espírito, a essência que nos é valor eterno...
Quem vem e fica
Não são as capas, os livros, as letras, mas as ideias, mensagens, valores que emergem
Do papel, da celulose fria, opaca, muitas vezes mofada, que não macula estes valores
Que depois de transpassarem os olhos, porta do mundo, não mais podem voltar
A ele, passando a figurar no espírito...
Quem vem e fica
É a morte sucessora real da vida, fato tão desconhecido, incrivelmente temido,
Para o qual não há saída, não há escape, em vista que seu alcance está na própria vida
Em seus caminhos, passagens e abordagens...
Robert Thomaz