Nos meus tempos de guri...
Por tantas vezes vi meu pai sair para as terras
Eu ainda muito guri tentava entender seu afastamento
Ele ia para campanha buscar nosso parco alimento
E quando apeava do bagual parecia vindo das guerras
O tempo passou e os bastos cabelos de meu pai
Foram ficando cobertos pela neve das montanhas
Para trazer-lhe sabedoria e a quanto a mim fui às sanhas
De ser peão, lobo solitário a vagar até o Uruguai
Porém, meu pai em toda sua sabedoria e discernimento
Avisou-me que a vida que desejava não era a mais pertinente
Que o futuro do Rio Grande do Sul era outro, um futuro incontinente
Mas como jovem imerso na rebeldia desdenhei de seu julgamento
Pelejei por coxilhas e vales, passei dores e noites ao relento
Quando a neve também começou a cobrir meus ossos e cabelos
Entendi nas entranhas as palavras de meu pai, seus sábios apelos
Para que eu deixasse de pensar como guri e mudasse meu desajuizado intento
Robert Thomaz