UM CONTO COM DESCONTO
Rio, 17/04/2008.
O sapo mora na lagoa e tem por visinhos as rãs e pererecas, seu coaxar é estridente, faz-me ficar irritado. O nome do sapo é Horácio ele tem um belo palácio ao lado da lagoa, sua esposa a Marlócia veio da Capadócia num aquário social. O coaxar de Marlócia é tão agudo que faz rachar cristal, à noite quando coaxa faz fugir todo o animal. O zunzunzum na lagoa é de reclamação, as rãs e pererecas não agüentam mais a cantiga de Horácio e Marlócia. A bicharada está fazendo um abaixo-assinado contra o sapo Horácio e Marlócia e já tem mais de 1.000.000 de assinaturas. Vão mandar ao congresso para que os cassem por falta de decoro lagumar e que fiquem 8 anos sem cantar. O sapo Horácio disse que vai chutar o balde e Marlócia diz que vai botar a boca no mundo. Horácio, o sapo, diz que tem feito muito bem a todos da lagoa que seu cantar, como o e Marlócia sua esposa, é de alegria depois de haverem comido mais de um milhão de mosquitos e todos da dengue, e que o congresso como toda a bicharada não está fazendo nada no combate; só falam e falam, mas não resolvem, são cultivadores de retóricas e que suas reuniões são aglomerações inúteis, com metas fúteis e só para inglês ver. Horácio disse que vai com sua esposa ao congresso e que chutará o pau da barraca e vomitará tudo que tem comido e todos na lagoa se nausearão, provará a sua inocência e a demência dos habitantes da lagoa que em vez de trabalharem andam inventados cantiga pra boi dormir. Horácio, muito irritado, disse que muitos são da direita e outros de esquerda e até de centro, mas que nenhum é da lagoa, e estão fazendo nada elevado a nada. Quando aumentam sua ração há quorum e tudo é justificado e dentro da lei e aprovado em um minuto, mas quando outras rações nunca há vez. Horácio disse que o congresso só anda costurando, os caminhos remendando e fazendo varias emendas (será que estão soltando pipas? Empinar papagaios), acho que são todos costureiros da alta moda. Estão ufanados de poder, acham-se deuses milagreiros, falam como cuíca e chocalham como pandeiros. Todos os anos dão a festa que a bicharada gosta e de quatro em quatro anos fazem mais uma aposta e a bicharada vai fundo e se atola na bosta. Mandaram prender o sapo Horácio e Marlócia e os lançaram no fundo de um calabouço, mas quem tem os ouvidos atentos ainda pode ouvir, lá no fundo, o coaxar estridente de Horácio e o agudo de rachar cristal de Marlócia.
Moral da história: melhor é coaxar sinceramente, que ser um omisso ridente!
SEDNAN MOURA