Domínio do Pecado ou da Graça
Se é impossível não pecar enquanto estivermos neste mundo, por que Jesus costumava dizer àqueles a quem perdoava: “vai e não peques mais!”?
Por que o apóstolo João diz que escreveu aos crentes para que eles não mais pequem? (I João 2.1) e que aquele que é nascido de Deus não peca? (I João 5.18).
O apóstolo Paulo afirma em Romanos 6.14 que o pecado não mais tem domínio sobre os crentes porque não estão debaixo da lei e sim da graça.
O que se pretende com tais afirmações?
Qual é a mensagem do Espírito Santo para a igreja através destas passagens e muitas outras semelhantes?
É inegável que todas se referem a uma vitória que foi obtida sobre o domínio do pecado, e isto é dito com toda a autoridade e firmeza em razão da nova dispensação da graça que foi inaugurada por Jesus.
Temos aqui coisas espirituais boas e eternas que foram conquistadas para nós por Jesus, e o que nos cabe fazer para termos um viver vitorioso sobre o pecado.
Primeiro, quanto ao que foi conquistado para nós, temos a liberdade da condenação e maldição da lei, porque Jesus satisfez inteiramente à justiça divina tendo cumprido perfeitamente a lei e morrido sob ela em nosso lugar, de modo que estando livres da lei, o pecado perdeu a sua força para nos conduzir sob a condenação dela.
Em Jesus somos considerados por Deus como estando crucificados e mortos juntamente com ele, de modo que a lei não pode mais condenar quem foi justificado pela fé.
Somos livrados então tanto do domínio da lei, quanto do pecado, e por conseguinte do diabo, que exercia senhorio sobre nós por conta dessa escravidão ao pecado.
O pecado era um usurpador que nos escravizava por violência e tirania, não tendo recebido portanto, da parte de Deus, o direito legal de nos escravizar, e assim, quando recorremos a Cristo, ele teve que abandonar o seu governo sobre nós, cedendo-o à graça do Senhor, quem é que reina agora sobre o crente.
Pelo mesmo poder do Espírito Santo, que nos regenerou e santificou, na conversão pela qual fomos libertados da lei, do pecado e do diabo, e para sermos transportados para o domínio da graça e de Deus, por meio da fé em Jesus, somos também auxiliados por renovações sucessivas da graça para manter o domínio da graça sobre o pecado.
Onde não há luta, não há conquista, não há vitória.
Essa é a razão de ainda permanecer resquícios do pecado nos crentes, para que por meio dos deveres de obediência no exercício da fé no Cristo crucificado, na oração e na mortificação do pecado pela prática da justiça evangélica, a graça entre em ação e demonstre o seu poder sobre o pecado, e que é ela de fato quem agora detém o governo sobre nós.
Com isto Deus é glorificado na obra de Jesus, e aprendemos não somente o quanto o pecado é pernicioso e destrutivo, e quanto a graça nos é tão necessária para uma vida santa e vitoriosa sobre o pecado.
Então, aquelas perguntas iniciais que apresentamos, podem ser respondidas adequadamente por estas considerações que fizemos.
Pois, quando a Palavra afirma que não devemos pecar mais, uma vez tendo nos convertido a Cristo, o que aí se ensina é que apesar de haver resquícios de pecado nos crentes, não é o pecado que detém o domínio legal sobre eles, o qual a propósito nunca possuiu de fato, pois a escravidão que exercia sobre nós antes da conversão era por concessão de nossa vontade, e não por um direito adquirido da parte de Deus, a quem pertence de fato o domínio, o governo e o poder sobre todos os homens.
Vemos quão crucial é pela vontade de Deus que todo crente viva de modo inteiramente santo, que tenha isto por ideal, e que nunca dê trégua ao pecado, ou concessão a um viver pecaminoso, pois temos recebido a graça e o poder do Espírito exatamente para este fim de estarmos empenhados neste bom combate da fé, na luta incessante contra o pecado, até o dia da nossa morte.
O arrependimento, a confissão, o coração contrito, a tristeza pelo pecado, são essenciais para a vitória nesta guerra, e para isto necessitamos da ação do Espírito Santo para criar em nós tal quadro e condição espiritual.
Por isso recebemos um Fiador, uma Garantia na nova aliança que Deus fez conosco através do sangue de Jesus, de perdoar todos os nossos pecados por causa da fé em Cristo, sendo Ele esta fiança e garantia, e a razão de nunca mais sermos rejeitados por Deus.
Então, se alguém está fraco, permitindo que o pecado tenha vantagens sobre a sua vida, é porque tem falhado nos deveres de obediência da fé, da oração, da vigilância, do arrependimento, da confissão, da comunhão, e assim tem sido permitido por Deus, para que se levante e conquiste a vitória com as armas que são espirituais e que compõem toda a armadura de Deus.
Estamos empenhados numa luta contínua para a fé, enquanto estivermos aqui neste mundo e esta somente cessará quando formos para a glória celestial para recebermos a nossa coroa, e isto, se formos achados fieis e empenhados na obra da nossa santificação pelo Espírito Santo, consoante a aplicação da Palavra de Deus às nossas vidas.