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O MITO DA CAVERNA

Sempre gostei de conversar com meu avô, pois o considerava um sábio. Eu estava com ele na varanda da nossa casa. Naquela noite quente de verão, nós dois olhávamos, preguiçosamente, para as sombras das árvores produzidas pela luz fosca da lua cheia. Era uma imagem bastante misteriosa e fez vovô se lembrar de um mito que falava de luz e sombras, um mito muito conhecido de Platão, um filósofo de mais 2500 a.C., que quis descrever a situação geral em que se encontrava a humanidade e, para isso, usou como exemplo a história do mito das cavernas.
&9472; É, meu querido neto, todos nós estamos condenados a ver sombras a nossa frente e tomá-las como verdadeiras.
&9472; Como assim, vovô?
&9472; Lembrei-me do mito das cavernas, de Platão. Esta história foi escrita há quase 2500 anos atrás.
&9472; Nossa! Quanto tempo! Vovô, o que isso que o senhor disse quer dizer?
&9472; Ora, tente imaginar uma caverna bem lá nas profundezas, onde há nela pessoas vivendo desde a infância, sem nunca terem tido contato com mais nada além da própria caverna. Naquele lugar escuro, estas pessoas viviam imobilizadas, obrigadas a ficarem ali devido às correntes presas aos pés e que lhes obrigavam a olhar apenas para a parede em frente. Sabem o que elas podiam ver?
&9472; Não... Bem, a parede, né, vô?
&9472; Além da parede, viam as sombras de pessoas projetadas na parede. Suponha que houvesse também uns prisioneiros que carregavam para lá e para cá, sobre suas cabeças, estatuetas de homens, de animais, vasos, bacias e outros vasilhames, por detrás do muro onde os demais estavam encadeados. Como havia uma escassa iluminação vinda do fundo do subterrâneo, os habitantes daquele triste lugar só podiam enxergar o bruxuleio das sombras daqueles objetos, surgindo e se desfazendo diante deles. Era assim que viviam os homens. Acreditavam que as imagens fantasmagóricas que apareciam aos seus olhos eram verdadeiras, tomavam o espectro pela realidade. A sua existência era, pois, inteiramente dominada pela ignorância.
&9472; Mas... e se alguém resolvesse libertar um daqueles pobres diabos da sua pesarosa ignorância e o levasse, ainda que arrastado, à força, para longe daquela caverna, o que poderia acontecer, vô?
&9472; Acredito que, ao ver a luz do lado de fora pela primeira vez, o ex-prisioneiro da caverna nada enxergaria, pois seus olhos ficariam ofuscados pela extrema luminosidade do sol.
&9472; Do que adianta sair, então, da caverna se os olhos não podiam ver?
&9472; O ex-prisioneiro não ficaria assim para sempre, é claro! Aos poucos, os olhos se acostumariam com a claridade e, climatados, ele iria desvendando, aos poucos, como se fosse alguém que lentamente recuperasse a visão, as manchas, as imagens e, finalmente, uma infinidade de objetos maravilhosos que o cercavam. Assim, ainda admirado, surpreso com o que via, ele se depararia com a existência de outro mundo, totalmente oposto ao do subterrâneo em que fora criado. O universo da ciência e o do conhecimento, por inteiro, se escancarava perante ele, podendo então vislumbrar e embevecer-se com o mundo das formas perfeitas.
&9472; Sabe que é assim mesmo quando a gente estuda sobre algo? No começo, nada sabemos, mas, depois e aos poucos, vamos entendendo mais e mais. O que era difícil e diferente passa a ser fácil e comum. Mas... a gente sempre descobre algo mais, que a gente não sabe ainda. Parece uma fonte de onde brota sempre mais e mais água.
&9472; É isso mesmo! O conhecimento pode ser comparado com esta fonte. Mas lembre-se de que é sempre doloroso chegar ao conhecimento! Precisamos percorrer caminhos bem definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância requer sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da opinião. E sabe quando isso acontece?
&9472; Não...
&9472; É quando a pessoa se ergue das profundezas da caverna da ignorância e tem o seu primeiro contato com as novas e imprecisas imagens exteriores. Nesse primeiro instante, a pessoa não consegue captar tudo o que vê na totalidade, vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente. No momento seguinte, porém, persistindo em seu olhar inquisidor, ela finalmente poderá ver o objeto na sua integralidade, com os seus perfis bem definidos. Aí, então, atingirá o conhecimento.
&9472; Essa é a busca pelo conhecimento?
&9472; Não. Na verdade, essa busca não se limita a descobrir a verdade dos objetos, mas algo bem mais superior: chegar à contemplação das ideias morais que regem a sociedade. Isto significa conhecer o bem, o belo e a justiça.
&9472; Há, então, dois mundos? O da ignorância e o da sabedoria?
&9472; Digamos que sim. Um mundo é o visível, aquele em que a maioria da humanidade está presa, condicionada pelo lusco-fusco da caverna, crendo, iludida que as sombras são a realidade.
&9472; E o outro mundo é...
&9472; O outro mundo, o inteligível, é para alguns poucos. Os que conseguem superar a ignorância em que nasceram e, rompendo com os ferros que os prendiam ao subterrâneo, ergueram-se para a esfera da luz em busca das essências maiores do bem e do belo. O visível é o império dos sentidos, captado pelo olhar e dominado pela subjetividade; o inteligível é o reino da inteligência percebido pela razão.
&9472; Então, vovô, o homem ignorante é aquele que vive preso às coisas do cotidiano. O outro mundo é a seara do homem sábio, daquele que descobre um universo diante de si.
&9472; Isso mesmo! Gosto muito de filosofar com você, meu neto!
&9472; Eu também, vô!
Sabe, depois de tanto tempo desta conversa com meu avô, tenho a impressão de que as sombras das árvores na escuridão estão diferentes agora.

 
   
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