Efuturo: A Bruxa de Westwood/ Coleção Contos [Livro] O Vale das Bruxas

A Bruxa de Westwood/ Coleção Contos [Livro] O Vale das Bruxas

Em meados de julho de 2011 o mundo congelou por enigmáticos séculos. O tempo congelou por fora, apenas por fora. Porque dentro da alma de Brigite Blackwood havia um fogo abrasador de esperanças na qual ela nunca havia conhecido.
Esse fogo perturbador, eloquente e desconhecido deixou-a sem palavras e sem conhecimentos para enfrentar o cotidiano da vida que se seguia.
Eram brasas poderosas, faíscas que saíam de um vasto mundo desconhecido diante de seus olhos.
As tardes e noites nunca mais foram iguais. O tom caramelizado de cores que se espalhavam no horizonte deixava-a perplexa porque sua visão apenas se estendia de um vasto mundo em particular, o soberano. Soberano porque deixou de ser um mundo mundano e sim um reino etéreo.
As coisas deixaram de ser vistas freneticamente de forma singular e passaram a ser vistas como rebeldias, como um aprendiz desqualificado. Um aventureiro de primeira viagem. Como se um mentor o deixasse louco por suas adversidades aventureiras.
Um mundo abriu de forma estranha bem a sua frente e tudo que lhe mostrou foram suas façanhas desonrosas e foi lhe aplicado à primeira tarefa para seu diário que nunca compilou.
O primeiro naipe foi uma lição simples, calar-se. Então o calor de tudo que sentia foi ficando muito mais forte e reclusada por sua primeira lição. E não contendo a pressão dessa tarefa. Desabafou.
O segundo naipe foi então lhe mostrado mesmo depois de tê-la apresentado o último.
Brigite Blackwood não estava pronta. Porque para entender deve conhecer. Para conhecer se ousa a buscar. Para ousar deve buscar e assim querer e querendo o que se busca então deve calar-se.
O tempo então começou a passar de lento para muito rápido e todas as coisas das quais amava fazer passou despercebido.
Buscou em seus livros respostas para suas perguntas e nada encontrou. Porque o mentor tinha se calado. Tudo ficou escuro e impalpável. Sem a ajuda de seu professor e mentor em horas específicas. Tudo aconteceu e passou rápido como uma bala.
O céu que via em cores de caramelo tomou um rumo diferente e certamente tinha percebido que a magia tinha ido embora. Levou-a e tudo que tinha se esforçado no início também desapareceu.
Quatro meses antes de seu aprendizado sentia que um mundo de cores e fantasias estava a sua espera. Um mundo de elfos, fadas e gnomos. As músicas celtas que cantarolava só em sua mente expandia em cores vibrantes o enorme fluxo de energia que gerava para sua alma, agora sentia com exatidão o infortúnio que seguia em sua direção por não compreender o seu único amigo e conselheiro, sua própria consciência indicando que algo estava errado. E estava. Algo a acusava. Mas, Brigite não sabia entender as inúmeras formas de se comunicar com os sinais.
Então perdida em seu mundo escuro e sem forças de se comunicar ouviu um ruído em seu livro de magia.
O ruído era estridente e chamava sua atenção, porém, ainda perdida conseguiu apalpar um volume grosso e até empoeirado. Alguém via sua desgraça e resolveu dá-la outra chance.
Isto passara em seu mundo físico e mundano quatro anos. Sua ruptura entre os elos de seu mundo para o laço de um mundo sagrado.
Os anos passaram e as buscas ainda eram flexíveis, só não os resultados. O grande mago viu seu esforço e deu lhe a chance de provar que tudo se resumia em uma única explicação, a falta de paciência. Por muitos motivos, por não encarar com calma suas tarefas do cotidiano e de se expor.
O mundo da magia não era um mundo em exposição e sim um mundo silencioso e devotado. Onde os olhos certos olhariam e veriam a direção.
O ruído permanecia e então ela abriu o sagrado livro e levou um susto. As imagens contorcidas e entorpecidas por sua mente desfeita ainda assimilava alguma coisa. Era uma vasta floresta sendo refeita pelas imagens de sua própria mente.
Naquele espaço sagrado ela tinha criado um mundo cheio de insetos perversos, répteis e animais ferozes. As árvores tinham sido queimadas e seu céu fora destruído pelos gazes tóxicos que projetara com sua mente venenosa.
Praticamente tudo que criara para seu próprio mundo foram seres para ser devorada por eles em algum momento de espera e reflexão. E vendo tudo aquilo parou. E piscou duas ou três vezes, e mesmo assim ainda via. A magia tinha voltado.
As músicas celtas cantarolando no fundo das árvores que restaram em sua mente. A força na qual seguia seu fluxo. Só não sabia de um detalhe. Conviver com tudo aquilo que ela mesma criou.
Esse detalhe entendeu minutos depois. Mas, tudo parecia melhorar sua visão e percepção e ela jurou ser alguém na qual nenhum mundo poderia molda-la, apenas aperfeiçoa-la.
Brigite então passava horas estudando, pesquisando, lendo e seu mundo mundano começou abrir fendas para outro em particular. O soberano.
O reino sem explicação passou a existir novamente, mas ainda com fagulhas do passado na qual o tempo e sua convicção pudesse corrigir.
Com suas leituras encontrou uma fonte arrebatadora, a ioga. E por suas técnicas e regras conseguiu a projeção astral. Por minutos, mas conseguiu.
O reino tinha se deixado ser observado, mas nem tudo poderia ser expiado.
O livro então mais uma vez o chamou. E o ruído continuou até que suas mãos o abriram.
E uma voz singular lhe falou.
- Não vá por este caminho.
- Por quê?
- Porque o mundo da magia não existe atalhos.
- Eu só quero entender melhor a feitiçaria, a magia, a bruxaria...
- A verdadeira essência da magia está nos atos mais simples da vida.
- Como poderei entender se não perguntar?
- As respostas não estão no puxão de energia etérea. A energia que cria para suas perguntas pode leva-la para sempre sem conhecer o caminho de volta pra casa.
- Eu tomarei cuidado.
- Não vá mais.
- Eu não vou.
A voz tinha a deixado para um momento de reflexão. Deixara-a sem seu amparo, confiando que Brigite nunca mais sairia de seu mundo para expiar o seu.
Então tomou suas rédeas e foi embora mais uma vez.
O tempo fora do tempo. Perdida por sua ambição. Voltou a expiar.
A fenda que se abriu engoliu-a para seu mundo e não poderia voltar.
Nunca mais.